terça-feira, 29 de abril de 2008

Quinta do Real

Linha do Tua

Fotografia recolhida na net

Vila Flor

(vilaflor.blogs.sapo.pt)
Vila Flor com neve, anos 70 (vilaflor.blogs.sapo.pt)

Fonte Romana (vilaflor.blogs.sapo.pt)






( António Amorim )

(António Amorim )

TRÁS-OS-MONTES


"TRÁS-OS-MONTES": FILME CONTRA A CIDADE


«O filme não é para a cidade, o filme é contra a cidade», afirma António Reis que assina a realização do filme «Trás-os-Montes», conjuntamente com M. Martins Cordeiro.

O filme, que inicialmente se designava «Nordeste», palavra limitativa que a cidade vulgarizou, chamar-se-á definitivamente «Trás-os-Montes», a cuja raia se dá por nome de «fronteira do luto».

Da Idade Média aos nossos dias, a obra percorre as lendas que chegaram a Trás-os-Montes ou dela partiram. Reintegra a sabedoria chinesa, por exemplo, na mirandesa. «Isto é nosso», diria um mirandês falando duma chinesa.«Os actores não são profissionais, os actores são o povo transmontano».

Actores, além de outros, são o sr. Amador, camponês da Freixiosa, que, ao vestir a festiva capa mirandesa, retorna à sua dimensão de oráculo; o ferreiro de Ifanes, de 82 anos, gordo robusto, que escolheu a vida sedentária; os garotos Armando Manuel, «Armandito» na ternura dos que mergulharam nesta viagem e aventura através dos tempos, do Patronato de Santo António, de Bragança, com sardas que mais parecem borrifos de estrelas e ar profundamente triste; e o Luís Ferreira, a quem morrera a mãe há dois meses e que no filme teve de chamar mãe a outra pessoa. Optou pela libertação. «Um pequeno génio», como diria António Reis.
As filmagens demoraram 40 dias.
Foram gastos 15.000 metros de fita. Após a montagem, serão aproveitados não mais que 2.000.As verbas concedidas, que em dinheiro sonante atingem apenas os 900 e tal contos, não foram suficientes.«Trás-os-Montes», produção do Centro Português de Cinema, foi patrocinado pelo Instituto Português de Cinema, com a colaboração da R.T.P. e da Tobis.Da equipa técnica, além dos realizadores António Reis e M. Martins Cordeiro, fizeram parte o operador Acácio de Almeida, o assistente de montagem Carlos Nana, o iluminista João Silva e o técnico de som João Diogo. Foi director de produção, Pedro Paulo.
O «CASTELO DE HAMLET»O filme, a ser estreado na Primavera, única estação que, intencionalmente, não aparece representada na película, terá a sua ante-estreia em Bragança e Miranda. «É um acto de justiça e gratidão para com o povo transmontano».

Algumas das cenas são como que o ultrapassar das barreiras do tempo, se é que há muros para o tempo.

Autêntica barbárie, nas suas capas ancestrais, normandos e godos, com olhos de violência azul, sobem as arribas de Algoso, tendo ao alto o castelo de algum «hamlet» trasmontano, em ruínas hoje, mas soturno e denso ainda.

As minas de estanho de Ervedosa, onde em tempos homens morreram de silicose, um corpo desconjuntado e cercado por montes, com chapas de zinco atordoando ao vento e fios como veias rebentadas assomando da profundidade da mina.

Um garoto, o «Armandito», explorando esta paisagem de pesadelo e sem tempo, enquanto chove torrencialmente. A cena lúcida dos dois garotos a comerem pedaços de gelo numa ribeira: aparece-lhes um peixe congelado ainda com filetes de sangue riscando o dorso.

Mineiros com os seus capacetes pesados à vista, mirandeses e bragançanos com as capas nobres, reúnem-se na «Domus Municipalis de Bragança», arquitecturalmente única na Europa.

A Idade Média e Hoje, marcaram ali encontro. «É a primeira vez que vejo «mirandeses», diria, impressionado, um mineiro.

A última cena do filme é uma homenagem ao comboio que, a resfolegar, chega, há quase meio século, a Duas Igrejas.

O comboio passa, o maquinista diz: «Se for necessário, fazemos uma marcha-atrás». Repetem-se as filmagens. O comboio acaba sempre por chegar a Duas Igrejas.

n/assinado

Jornal Diário de Lisboa, pág. 6, 17 de Fevereiro de 1975 (republicado em Celulóide, n.º 209, págs. 8-9, de 10 de Abril de 1975)

segunda-feira, 28 de abril de 2008

domingo, 27 de abril de 2008

Oleiro - Bisalhães, Vila Real


Gaita transmontana ou Gaite de foles


A gaita-de-fole transmontana (também conhecida como gaita trasmontana e gaita mirandesa, ou simplesmente por gaita-de-fole, gaita de foles ou ainda gaita) está entre os modelos mais intrigantes de gaitas-de-fole conhecidas, no que se refere à sua afinação e trajetória.

Muitos defendem que o termo gaita mirandesa seja um tanto impreciso, visto que a cidade de Miranda do Douro é apenas uma pequena região do território tido como Trás-os-montes, por onde o instrumento está tradicionalmente disseminado, sobretudo nas comarcas de Bragança, Miranda e Mogadouro. Daí que talvez o mais correcto seja chamá-la de "gaita-de-fole transmontana" ou só "gaita-de-fole", como é sempre chamada pelos gaiteiros mais velhos. O nome "transmontana" serve apenas para distingui-la de outras gaitas ibéricas, como a galega ou asturiana, por exemplo.


Os registros mais antigos sobre o instrumento datam já do século XVIII, em sua ampla maioria escritos. A sua cultura vinha sendo passada até meados do século XX oralmente, de pai para filho, com diferenças subtis entre cada aldeia e região. É possível encontrar manifestações tradicionais entre populações rurais mais ao sul de Trás-os-montes, como em regiões dos distritos da Guarda e Castelo Branco, mas já no Algarve os populares referem-se ao gaiteiro como músico do Norte.
Essa rica porém frágil tradição correu sério risco de extinção já a partir de 1960, quando então o antropólogo português
Ernesto Veiga de Oliveira passou a fazer recolhas pelo país e a alertar para o risco da perda de tão singular manifestação cultural. Os motivos para tal queda de popularidade são os mais variados: desde os tradicionalmente ligados a qualquer gaita-de-fole -- como a concorrência com outros instrumentos feito o violão e o acordeão -- até o êxodo das populações jovens para áreas urbanas ou mesmo a emigração (especialmente Brasil e França), rompendo com as tradições pastoris de suas origens. Uma das conseqüências mais notórias da obliteração do instrumento é o limitado repertório tradicional hoje conhecido, variando pouco de região para região. Muitas músicas, transmitidas apenas oralmente, eram conhecidas ainda por uns poucos músicos já falecidos do que se considera a última geração de gaiteiros tradicionais, da qual ainda restam alguns, mas poucos.
Lentamente, ao longo das últimas duas décadas, trabalhos de resgate vêm sendo promovidos por diversos grupos por todo Portugal, a reinserir o instrumento na cultura lusitana. Grande parte do repertório remanescente e imagens de diferentes instrumentistas e suas gaitas transmontanas estão compilados nalguns acervos, como os de Veiga de Oliveira,
Sons da Terra e da Associação Gaita-de-Fole. Também, uma série de novos instrumentistas solo e grupos musicais vêm surgindo, como os Galandum Galundaina, Gaiteiros de Lisboa e Gaitafolia, os quais vêm produzindo muito material novo para a gaita transmontana. Não obstante, vem sendo promovido com regularidade o Festival Anual de Gaitas-de-Fole, a reunir inúmeros instrumentistas.



Muitos alegam que a gaita transmontana estaria entre os primeiros instrumentos musicais europeus com registro conhecido na América do Sul. Isso devido a uma passagem da carta escrita por Pero Vaz de Caminha quando a frota de Pedro Álvares Cabral aportou em solo brasílico:
"(...) Com isto se volveu
Bartolomeu Dias ao Capitão. E viemo-nos às naus, a comer, tangendo trombetas e gaitas, sem os mais constranger. E eles tornaram-se a sentar na praia, e assim por então ficaram.
(...) E além do rio andavam muitos deles dançando e folgando, uns diante os outros, sem se tomarem pelas mãos. E faziam-no bem. Passou-se então para a outra banda do rio
Diogo Dias, que fora almoxarife de Sacavém, o qual é homem gracioso e de prazer. E levou consigo um gaiteiro nosso com sua gaita. E meteu-se a dançar com eles, tomando-os pelas mãos; e eles folgavam e riam e andavam com ele muito bem ao som da gaita. Depois de dançarem fez ali muitas voltas ligeiras, andando no chão, e salto real, de que se eles espantavam e riam e folgavam muito. E conquanto com aquilo os segurou e afagou muito, tomavam logo uma esquiveza como de animais monteses, e foram-se para cima. "
Contudo, ainda que o referido gaiteiro seja um tocador de gaita-de-fole e não outro tipo de gaita, dificilmente se pode atestar qual modelo de gaita ele estava a tocar. A península ibérica sempre foi terreno fértil para o surgimento de diversos modelos de gaitas-de-fole, alguns dos quais não sobreviveram até os dias de hoje. Além disso, a
gaita galega, ainda que provavelmente um modelo um tanto diferente do actual, sempre foi tão popular quanto a gaita transmontana, senão mais; em especial, na região litoral do Douro, onde ela é tida como gaita minhota. Finalmente, reservam-se algumas suspeitas de historiadores quanto à legitimidade da carta de Caminha, que segundo alguns fora escrita muito tempo depois do ocorrido, com o acréscimo de diversos fatos.
Outros vestígios indiretos nos levam a crer que a gaita transmontana dificilmente experimentou uma posição de destaque no decorrer da formação da cultura brasileira. Sua afinação peculiar, eólia, não encontra muitos similares no rico repertório popular brasileiro. Contudo, é possível que o instrumento tenha alcançado não só o Brasil, mas outros territórios ultramarinos, por meio de vários gaiteiros. As sucessivas ondas migratórias de Portugal ao Brasil se deram principalmente por populações nortenhas, constituintes à época da parcela mais humilde do povo português. Contudo, enquanto outros traços de tradições das regiões lusitanas setentrionais são facilmente encontrados no cotidiano brasileiro, a gaita transmontana se perdeu ao longo da história.

A gaita transmontana compartilha diversos aspectos estruturais com gaitas de regiões vizinhas: a gaita sanabresa, a gaita zamorana e a gaita alistana. Muito se discute se realmente é válida a distinção entre elas tamanha suas semelhanças, mas há de se lembrar que um objeto não se define apenas por sua estrutura, mas sim por seu contexto, sua tradição, suas técnicas e seu repertório, a formar seu significado para determinada população.



Constituída sempre de apenas um bordão baixo com palhão (duas oitavas abaixo) e uma cantadeira cônica com palheta dupla, ao passo que sua bolsa também possui um desenho característico, a usar o couro inteiro do bode.
Esta gaita é mais comumente construída em madeira de buxo
e com anéis de corno, sendo freqüente uma rica adornação de suas peças com motivos pastoris geométricos. Ainda hoje há poucos luthiers deste modelo de gaita, sendo geralmente construído de forma artesanal pelos próprios instrumentistas em populações pastoris do nordeste de Portugal. Contudo, cada vez mais artesãos dedicados à construção de instrumentos musicais voltam-se para esta gaita, não apenas em Portugal mas noutros países também, sobretudo na Espanha (Galiza) e Brasil.
A veste da bolsa costuma trazer padrões coloridos, além de adornos pendurados nos bordões e franjas típicas na maioria das gaitas ibéricas.

Afinação e digitação
Contudo, é na sua afinação que se deposita a maior peculiaridade da gaita transmontana. Ao passo que sua nota fundamental pode ser em Si, Sib ou Lá, com a subtónica (não sensível) um tom abaixo, em modo eólico
torna a sua escala distinta, parecendo a alguns um instrumento oriental. É discutível se este modo é plenamente eólio, dado a típica dispossiçāo nāo temperada do ponteiro das gaitas conservadas, mas é no padrão eólio que resulta mais fácil encaixa-las . O seu isolamento entre as montanhas portuguesas conservou à parte das tendências musicais que o Ocidente passou a estabelecer a partir do Barroco, como a predileção pelo modo jônio e um aumento do timbre. No entanto, a terceira menor na escala base do ponteiro aparece às vezes em instrumentos concretos em Sanabria, Astúrias e Galiza. A palheta de sua cantadeira é robusta e forte, com um volume bem audível, típico de um instrumento de ar livre. A sua digitação é aberta e soa uma oitava não-cromática. O seu único bordão baixo soa na tónica duas oitavas abaixo da cantadeira.


Repertório
Ao contrário do que é possível constatar com a gaita galega e a das Highlands, por exemplo, a gaita transmontana está a ser recuperada há pouco tempo, por isso o seu repertório é quase todo tradicional, com poucas composições modernas escritas para ela. Isso deve-se, em parte, devido ao ocaso do instrumento, cuja tradição fora mantida oralmente e estava já perder-se, à exemplo da säckpipa. No entanto, neste momento, há muitas gravações antigas e recolhas desse instrumento disponíveis pelo trabalho de muitos etnomusicólogos.


sábado, 26 de abril de 2008

Você é que é o ti Bispo?

O Bispo de Vila Real e o povo de Lamas de Olo
Um Bispo de Vila Real mostrou interesse em visitar as povoações nas montanhas de difícil acesso. Naquele tempo só a pé ou de cavalo é que se chegava lá. Naquelas aldeias havia muita gente e vivia-se muito bem com estes povos.
Então o Bispo mandou avisar algumas pessoas de Lamas Olo que ia visitá-las um dia. O automóvel do Bispo só dava para ir até uma povoação chamada Agarês, que ficava ainda longe de Lamas de Olo. Vieram pessoas visitar o Sr. Bispo só até onde ele chegou. Estas pessoas não sabiam do que é que se tratava.
Disseram-lhes que era um homem que trazia um gorro vermelho na cabeça e mandava nos padres. Quando o carro do Bispo chegou a Agarês, onde a estrada acabava, os habitantes de Lamas de Olo vieram com os jumentos da região.
Vendo então um destes que saiu do automóvel um homem de gorro vermelho na cabeça, aproximou-se dele e perguntou-lhe assim:
- Você é que é o ti Bispo?
- Sou, sim, o Sr. Bispo.
Então o homem disse assim para o Bispo:
- Então salte lá para cima dessa burra, que ela arrasta tudo nem que seja o Diabo.


Fonte: Rumo ao Sul

Panoias


Aqui me tens,

Gaius Calpurnius Rufinus,

Nas Fragas de Panóias.

Venho em sacrifício

À divindade principal

Dos deuses do Inferno,

O Altíssimo Serápis.

Grande Gaius,

Alivio-me do corpo terreno

Alcançando o espírito

Em êxtase!

Bebei o meu sangue,

Comungai de mim

Purificai-vos através

Das minhas entranhas incineradas.

Deixo este mundo

Pela tua mão, pela tua espada,

Gaius,

Que me tomas a jugular

Com doçura.

Caio em teus braços,

Gaius.

O meu último desejo carnal

É o teu beijo

À beira da talha.

E logo morro.

Nasço agora nas Fragas de Panóias.

Permaneço.



Ana Marques

PANÓIAS


Protecção Legal
Monumento Nacional (MN), Dec. 16-06-1910
Endereço
Assento – Vale de Nogueiras5000-715- Vila Real
Freguesia
Panóias
Concelho
Vila Real
Distrito
Vila Real
Tipo de Gestão
Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR)
Responsável
Dr. Orlando de Sousa, Direcção Regional do Porto (DRP-IPPAR)
Descrição
O Santuário de Panóias (monumento durante muitos anos designado por Fragas de Panóias) foi construído entre os finais do século II e os inícios do século III d. C. É constituído por um recinto onde se encontram três (entre outras) grandes fragas nas quais foram talhadas várias cavidades, de diversos tamanhos, bem como escadas de acesso. Numa das rochas foram também gravadas inscrições. Esta rocha, que denominamos de n.º 1, situada na entrada do recinto, possui as inscrições conhecidas, e que chegaram até nós, embora uma delas, ainda conhecida no século passado, tenha sido entretanto destruída.
Existem três inscrições em latim e uma em grego, e nelas estão as instruções dos rituais celebrados em Panóias, a identificação dos deuses e a do dedicante.
A inscrição desaparecida, também em latim, reconstituída a partir de leituras e registos anteriores, pode traduzir-se da seguinte maneira:“Aos Deuses e Deusas deste recinto sagrado. As vítimas sacrificam-se, matam-se neste lugar. As vísceras queimam-se nas cavidades quadradas em frente. O sangue verte-se aqui ao lado para as pequenas cavidades. Estabeleceu Gaius C. Calpurnius Rufinus, membro da ordem senatorial.”



Encontrava-se a cerca de 6/7 metros a Este da inscrição n.º 2, ao lado direito do caminho por onde entrava o visitante na área sagrada. O texto estaria orientado para a rocha 1. As vítimas eram mortas aqui, e o sangue vertido nas pequenas cavidades. As vísceras eram então queimadas em frente, ou seja, nas já referidas cavidades quadradas.
Para a rocha 1 sobe-se por uns degraus. Antes de subir, à esquerda, fica a inscrição n.º 2:“G. C. Calpurnius Rufinus consagrou dentro do templo (templo entendido como recinto sagrado), uma aedes, um santuário, dedicado aos Deuses Severos.”
Restam os vestígios de um dos pequenos templos existentes no recinto. Neste preciso ponto era feita a revelação que os deuses desse templo eram os Deuses Severos. À superfície desta rocha estão umas cavidades. A instrução dada pelo primeiro texto (o que desapareceu) referia-se às cavidades rectangulares onde se queimariam as vísceras. A partir daqui passava-se pelas escadas, para o outro lado da rocha, onde está a inscrição n.º 3:“Aos Deuses e Deusas e também a todas as divindades dos Lapitaes, Gaius C. Calpurnius Rufinus, membro da ordem senatorial, consagrou com este recinto sagrado para sempre uma cavidade, na qual se queimam as vítimas segundo o rito.”
Isto confirma que a cavidade sobre a inscrição mencionada anteriormente servia para a incineração das vísceras. Esta inscrição acrescenta também o facto de o recinto estar dedicado não só aos deuses já mencionados mas também aos deuses dos Lapitae, ou seja, aos deuses da comunidade indígena que existiria na região. Passando adiante temos a inscrição n.º 4 (em grego):“Ao altíssimo Serápis, com o Destino e os Mistérios, G. C. Calpurnius Rufinus, claríssimo.”


O senador consagrou o recinto sagrado à divindade principal dos deuses do Inferno, o Altíssimo Serápis, incluindo uma gastra e mistérios. Gastra, uma cavidade redonda, encontra-se imediatamente atrás da inscrição. A sua função no ritual seria o de assar a carne da vítima, que era consumida no local, em frente ao nome da divindade. A inscrição n.º 5 indica o acto final:“Aos deuses, G. C. Calpurnius Rufinus, claríssimo, com este (templo) oferece também uma cavidade para se proceder à mistura.”
Neste local, o iniciado purificava-se do sangue, gordura e azeite com que se tinha sujado.
Esta interpretação sobre Panóias é de Geza Alföldy. Com base nos seus estudos, podemos hoje dizer que tivemos no local um ritual de iniciação com uma ordem e um itinerário muito precisos – a matança das vítimas, o sacrifício do sangue, a incineração das vítimas, o consumo da carne, a revelação do nome da autoridade máxima dos infernos, e por fim a purificação.
Na rocha n.º 2 do recinto a iniciação repetia-se num grau mais elevado. Na rocha mais elevada, n.º 3, e onde também haveria um pequeno templo, teria lugar o acto principal da iniciação – a morte ritual, o enterro e a ressurreição.
Hoje em qualquer das três rochas temos vestígios dos pequenos templos que eram parte integrante do recinto. Restam também as diferentes cavidades rectangulares que serviam para queimar as vísceras, uma cavidade redonda – gastra, para assar a carne, e ainda uma outra onde se procedia à limpeza do sangue, gordura e azeite. Outras cavidades estavam relacionadas com os pequenos templos existentes, e destinar-se-iam a guardar os instrumentos sagrados usados nos rituais.
Existem portanto em Panóias testemunhos de um rito de iniciação dos mistérios das divindades infernais. As prescrições identificam-se como partes de uma lei sagrada, mas aplicadas a um local concreto e preciso. A escolha deste local não foi por isso feita ao acaso, mas sim fruto de critérios específicos e previamente estabelecidos. A topografia do local desempenhou aqui um importante papel.
C. G. Calpurnius Rufinus, senador, que introduziu este culto em Panóias, onde já haveria um culto indígena, deve ter sido um alto funcionário do governo provincial romano. A sua língua original foi o grego, mas na inscrição o uso da palavra “mystaria” em vez de “mysteria” demonstra o uso de um dialecto dórico ou pseudo-dórico. Os dados sobre a sua origem permitem supor com grande probabilidade que seja Perge de Panfilia, cidade de tradição dórica e um dos centros do culto de Serápis, e situada na Ásia Menor.

Horário
09.00h – 12.30h14.00h – 17.00h
Encerrado à segunda-feira, terça-feira de manhã e nos feriados de 1 de Janeiro, Domingo de Páscoa, 1 de Maio e 25 de Dezembro
Ingresso
Normal: € 1.5Jovens (15 a 25 anos) e reformados: € 0.75Portadores do Cartão Jovem: € 0.6Crianças até aos 14 anos: gratuito. Domingos e feriados até às 14:00: gratuito
Telefone
+ 351 226 179 385 (DRP)
Fax
+ 351 228 179 385
E-mail
drp.ippar@ippar.pt
Serviço Educativo
Não tem
Visitas Guiadas
Marcações prévias. Tel. +351 226 197 080
Loja
Não tem
Acessos
Partida de Vila Real, em frente ao Quartel do 13º Regimento de Infantaria, pela estrada N322 para Sabrosa. 0.7 Km - Passar sobre ponte 2.7 Km - No extremo de Abambres, virar à esquerda no cruzamento para Sabrosa. 3.0 Km - Numa curva, entrada do Palácio de Mateus à direita.5.0 Km - Entrada em Constantim.5.8 Km - No extremo oposto de Constantim, no cruzamento, seguir à esquerda pela estrada que sobe; sinal 1 Km Panóias.7.2 Km - Sinal amarelo à direita indica Panóias. Virar à direita e seguir para o parque de estacionamento junto à cerca.

ANONIMA NUVOLARI

UMA VIAGEM BOÉMIA ATRAVÉS DOS ÚLTIMOS 50 ANOS DA CANÇÃO ITALIANA
A Anonima Nuvolari é constituída por músicos italianos, provenientes de diferentes experiências musicais, que se juntaram para recuperar e valorizar o património musical italiano, na sua vertente mais alegre e dinâmica. A particular constituição do conjunto e o espírito boémio que o inspira concedem às suas performances uma natureza de cabaret musical, criando assim um ambiente caloroso e descontraído.
O repertório proposto pelos "fratelli" Nuvolari tem as suas raízes na música popular e consiste numa viagem através dos últimos 50 anos da canção italiana. Tendo como ponto de partida o maestro napolitano Renato Carosone, passa por referências como Fred Buscaglione ou Adriano Celentano, para chegar até autores contemporâneos como Paolo Conte e Vinicio Capossela, mantendo contudo uma continuidade artística.
Voz e acordeão: Calimero Nuvolari Saxofone: Sérgio Nuvolari Voz e cuitarra: Mick Nuvolari Contrabaixo: Ciccio Nuvolari Percussões: Beniamino Nuvolari
Espectáculo integrado no VINTE E SETE — Festival Internacional de Teatro (programação complementar)
26-Abr Pequeno Auditório 22:00

A RONDA NOCTURNA

De
Lars Norén
Pelo
Teatro do Bolhão
Com
António Capelo, Custódia Gallego, Luísa Cruz e Orlando Costa
Encenação
João Paulo Costa
Tradução
Cristina Canavarro
Dramaturgia
Regina Guimarães
Figurinos e Adereços
Cristina Costa
Iluminação
José Nuno Lima
Sonoplastia
Luís Aly
Espectáculo que constitui o desfecho do ciclo “realista” do Teatro do Bolhão, “A Ronda Nocturna” é um texto que evoca com uma nitidez desconcertante o universo visceral da peça “Quem Tem Medo de Virginia Woolf?” Considerado o herdeiro artístico de Ingmar Bergmam, o autor sueco Lars Norén é normalmente comparado a Strinberg ou a O’Neil. O seu teatro, alimentado de obsessões, é violento, visceral e denso. Em “A Ronda Nocturna”, dois irmãos e as suas esposas “atacam-se” ferozmente, desvendando sem pudor as suas frustrações, os seus desejos e os seus medos diante da urna que contém as cinzas da sua mãe. Um elenco de excepção assegura a estreia em Portugal desta obra marcante do teatro contemporâneo.
Espectáculo integrado no VINTE E SETE — Festival Internacional de Teatro