quarta-feira, 27 de junho de 2007

sábado, 23 de junho de 2007

domingo, 17 de junho de 2007

Jardins suspensos













VILA BOA, Mirandela


S. SALVADOR, Mirandela


VALE DE SALGUEIRO, Mirandela


TORRE DE D. CHAMA, Mirandela


Croça


Abrigo para a chuva feitos em junco, geralmente usado pelos pastores.
"Fraco é o Maio que não rompe uma croça."
provérbio

Reza do pão




sexta-feira, 15 de junho de 2007

EVENTOS

Abdelkader Saadoun
16 de Junho de 07, Teatro de VR

Músicos
Abdelkader Saadoun (voz, mandola argelina e guitarra), Rabah Khalfa (derbouka, percussão africana e voz), Rex William Horan (baixo), Oluseyi Akinsola Akinde (bateria) e Michael John Parlett (saxofone e flauta)

Abdelkader Saadoun vem de Khemis Miliana (Argélia), a poucos quilómetros de Wahran, o local onde nasceu o estilo musical Rai, de que é promotor. Na Argélia fundou a sua primeira banda, com que percorreu todo o país. Em 1988 mudou-se para Londres, onde criou um novo grupo, composto por músicos com diferentes formações. Abdelkader Saadoun usa nos seus concertos instrumentos tradicionais como mandole, hadjoudj e derbouka, percussão de norte de África, combinados com instrumentos europeus e modernos. É um artista carismático, capaz de seduzir a audiência com os seus ritmos contagiantes e uma postura dinâmica em palco. Actuou nos maiores festivais, incluindo o Womad. A música Rai tem origem na música argelina tradicional (Chaabi, Kabil e Chawia) e também integra jazz, funk, rock, reggae, fusão e blues. Baseada em ritmos fortes, é um som muito dinâmico e dançável. Tornou-se o estilo mais popular no Norte de África e no mundo árabe, e é a música das gerações actuais.

quinta-feira, 14 de junho de 2007

quarta-feira, 13 de junho de 2007

Fojo do Lobo

Fojo do lobo
A um km da estrada nacional Chaves -Vila Real, perto da aldeia de Samardã (Vila Pouca de Aguiar). Actualmente está integrada no Circuito do Lobo. Subimos a serra e encontramos do lado direito uma cerca com 50m de diâmetro, aproximadamente, construída em forma circular, mas encostada a um declive acentuado, e com aspecto de muralha sem castelo. É o fojo do lobo.
Antes de lá chegar, é bem provável que se cruze com um grande rebanho, espraiado pela encosta, indiferente á sua passagem, guardado pelo respectivo pastor, e 5 cães de guarda, dois destes, castro laboreiros com ar de poucos amigos.
Hoje o lobo é um animal em vias de extinção, sendo acautelado e protegido. Há décadas atrás, abundavam pelas serras de Trás-os-Montes, alimentando-se à custa dos rebanhos que habitavam aqueles declives de manha à noite. Nem os cães de guarda valiam às cabras ou ovelhas mais distraídas. A lei da vida!
A arte e o engenho dos seres pensantes, engendraram uma armadilha para apanhar os lobos: o Fojo do Lobo.
Um muro construído em granito, pedra irregular, com cerca de 3m de altura, com a particularidade do seu remate superior, ser formado por lages salientes para o interior, pontiagudas, tendo uma função muito especifica: impossibilitar a passagem do interior para o exterior.
Atendendo à morfologia do terreno, era possível os lobos saltarem para dentro deste recinto, utilizando a parte mais elevada, só que não conseguiam fazer o caminho inverso.
Assim, a tal “muralha possuía” uma pequena abertura onde era introduzida uma cabra velha, manca ou doente, tinhosa como lhe chamavam; tapavam o buraco com uma pedra e deixavam-na lá a pastar, com um pequeno pio com água. Era este o chamariz dos lobos, que rapidamente pressentiam a presença da cabra fora do rebanho. Saltavam o muro facilmente pelo topo superior, comiam a rés e só depois se sentiam encurralados, tendo que esperar pelo seu fim tão ardilosamente preparado.
No dia seguinte, os pastores chamariam os caçadores para matarem o lobo. Era costume, o caçador exibir o predador defunto, no lombo de um burro e passeá-lo pela aldeia, construindo oportunidade para convívio, prova de salpicões e emborcar uns quartilhos de vinho.

Estas construções de arquitectura popular, com origem ascentral, estão também em vias de extinção. Muitas se esqueceram, engolidas pelo mato de giestas, outras se desagregaram, ou ainda serviram de material de construção para outros espaços.
Resta ainda este, bem perto de todos nós, mas já adulterado: localizaram na sua parte central umas placas comemorativas, que alteram a conjuntura da cerca da morte.

A. Quelhas, publicado em http://www.estiradorsemrima.blogspot.com/

Camilo Castelo Branco que viveu uma parte da sua vida em Vilarinho de Samardã, imortalizou esta vivência:

“Eu é que conheço a Samardã, desde os meus onze anos. Está situada na província Transmontana, entre as serras do Mé­sio e do Alvão. Nas noites nevadas, as alcateias dos lobos descem à aldeia e cevam a sua fome nos rebanhos, se vingam descancelar as portas dos currais; à míngua de ovelhas, co­mem um burro vadio ou dois, consoante a necessidade. Se não topam alimária, uivam lugubremente, e embrenham-se nas gargantas da serra, iludindo a fome com raposas ou gatos bra­vos marasmados pelo frio. Foi ali que eu me familiarizei com as bestas-feras; ainda assim, topei-as depois, cá em baixo, nos matagais das cidades, tais e tantas que me eriçaram os ca­belos.Na vertente da montanha que dominava a Samardã, havia um fojo – uma cerca de muro tosco de calhaus a esmo onde se expunha à voracidade do lobo uma ovelha tinhosa. O lobo, engodado pelos balidos da ovelha, vinha de longe, derreado, rente com os fraguedos, de orelha fita e o focinho a farejar. Assim que dava tento da presa, arrojava-se de um pincho para o cerrado. A rês expedia os derradeiros berros fugindo e fur­tando as voltas ao lobo que, ao terceiro pulo, lhe cravava os dentes no pescoço, e atirava com ela escabujando sobre o espi­nhaço; porém, transpor de salto o muro era-lhe impossível, porque a altura interior fazia o dobro da externa. A fera pro­vavelmente compreendia então que fora lograda; mas em vez de largar a presa, e aliviar-se a carga, para tentar mais esco­teira o salto, a estúpida sentava-se sobre a ovelha e, depois de a esfolar, comia-a. Presenciei duas vezes esta carnagem em que eu – animal racional – levava vantagem ao lobo tão-somente em comer a ovelha assada no forno com arroz.De uma dessas vezes, pus sobre uns sargaços a Arte do padre António Pereira, da qual eu andava decorando todo o latim que esqueci; marinhei com a minha clavina pela parede por onde saltara a fera, e, posto às cavaleiras do muro, gastei a pólvora e chumbo que levava granizando o lobo, que raivava dentro do fojo atirando-se contra os ângulos aspérrimos do muro. Desci para deixar morrer o lobo sossegadamente e livre da minha presença odiosa. Antes de me retirar, espreitei-o por entre a juntura de duas pedras. Andava ele passeando na cir­cunferência do fojo com uns ares burgueses e sadios de um sujeito que faz o quilo de meia ovelha. Depois, sentou-se à beira da restante metade da rês; e, quando eu cuidava que ele ia morrer ao pé da vítima, acabou de a comer. É forçoso que eu não tenha algum amor-próprio para con­fessar que lhe não meti um só graeiro de cinco tiros que lhe desfechei. As minhas balas de chumbo naquele tempo eram inofensivas como as balas de papel com que hoje assanho os colmilhos de outras bestas-feras. Este conto veio a propósito da Samardã, que distava um quarto de légua da aldeia onde passei os primeiros e únicos felizes anos da minha mocidade.”


Camilo Castelo Branco, em “O Degredado”