terça-feira, 8 de julho de 2008

Em S. Leonardo de Galafura


20 de Março de 1988

Em S. Leonardo de Galafura

Aos meus netos
Mónica e Mário



Fui hoje de novo a Galafura

Neste primeiro dia de Primavera renovada:

Fui ver um risco metálico serpenteado

De águas paradas e sonolentas

Entre montes ansiosos

Gravados de luz e de sombras

Povoados e semeados

Dos encantos e desencantos

De lutas de Sísifos condenados

Ao sobe e desce eterno

Dum vaivém dia a dia recomeçado

Em frémitos de Titãs

De vidas comungadas

Que cios repetidos

Transformam por magia

Rudezas em ternuras

Sonhos em realidades.

Fui ver o Homem viril

Que a terra emprenhou;

Fui ver o Homem enamorado

Não perturbado pela Beleza

Que adormenta os sentidos;

Fui ver o Homem auto-predestinado

Não submisso ao Grandioso;

Fui ver o Homem rebelde

Não rendido ao supérfluo

Nem tão-pouco ao Sublime;

Fui ver mais uma vez

A eternidade da Vida

Motivo do meu cantar

Deste cantar que me subjugou

E ora me submete

Para sempre

No meu amor à Terra

No meu amor à Vida

Que não tem fim

E em tudo palpita.S

ubi a Galafura

Para ver e me embevecer

Não no “poema telúrico”

Que malabarismos poéticos delirantes

Imaginam e constroem com palavras;

Mas no poema de Amor

Do Homem pela Terra

Macho e fêmea

Em permanente mancebia.

Fui a Galafura

Para ver e me enlevar

Não na sinfonia incompleta

De uma “beleza eterna” sem sentido;

Mas no poema que vibra e se exalta

Na omnipotência do Homem

Ali presente

E em mil coitos fecundos gravada.

Fui ver e vi extasiado

Do Alto de Galafura

Neste primeiro dia de Primavera renovada

O Homem efémero na sua incomensurável grandeza

Estudante de Vida

Ardente de Amor.



Otílio Figueiredo

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