20 de Março de 1988
Em S. Leonardo de Galafura
Aos meus netos
Mónica e Mário
Fui hoje de novo a Galafura
Neste primeiro dia de Primavera renovada:
Fui ver um risco metálico serpenteado
De águas paradas e sonolentas
Entre montes ansiosos
Gravados de luz e de sombras
Povoados e semeados
Dos encantos e desencantos
De lutas de Sísifos condenados
Ao sobe e desce eterno
Dum vaivém dia a dia recomeçado
Em frémitos de Titãs
De vidas comungadas
Que cios repetidos
Transformam por magia
Rudezas em ternuras
Sonhos em realidades.
Fui ver o Homem viril
Que a terra emprenhou;
Fui ver o Homem enamorado
Não perturbado pela Beleza
Que adormenta os sentidos;
Fui ver o Homem auto-predestinado
Não submisso ao Grandioso;
Fui ver o Homem rebelde
Não rendido ao supérfluo
Nem tão-pouco ao Sublime;
Fui ver mais uma vez
A eternidade da Vida
Motivo do meu cantar
Deste cantar que me subjugou
E ora me submete
Para sempre
No meu amor à Terra
No meu amor à Vida
Que não tem fim
E em tudo palpita.S
ubi a Galafura
Para ver e me embevecer
Não no “poema telúrico”
Que malabarismos poéticos delirantes
Imaginam e constroem com palavras;
Mas no poema de Amor
Do Homem pela Terra
Macho e fêmea
Em permanente mancebia.
Fui a Galafura
Para ver e me enlevar
Não na sinfonia incompleta
De uma “beleza eterna” sem sentido;
Mas no poema que vibra e se exalta
Na omnipotência do Homem
Ali presente
E em mil coitos fecundos gravada.
Fui ver e vi extasiado
Do Alto de Galafura
Neste primeiro dia de Primavera renovada
O Homem efémero na sua incomensurável grandeza
Estudante de Vida
Ardente de Amor.
Otílio Figueiredo
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