sexta-feira, 1 de junho de 2007

A Iluminação Eléctrica em Vila Real

Cerca de 1880 foi utilizada a luz eléctrica em Paris para iluminação pública. Isto foi possível devido às invenções do dínamo em 1870 por Gramme e Siemens e da lâmpada de filamento por Thomas Edison em 1878/79. Até aí a iluminação pública fazia-se através de candeeiros a gás.

Lisboa viu pela primeira vez "luminárias eléctricas" em 1878, graças à doação feita pelo rei D. Luís à Câmara Municipal de 6 lâmpadas Jablockoff (semelhantes às que estavam em ensaio na Praça da Ópera em Paris) e respectivo gerador de energia. Tinham sido encomendadas para se instalarem inicialmente na cidadela de Cascais para as festividades do aniversário do príncipe herdeiro D. Carlos. A Câmara apresentou esta "amostra" de iluminação pública na rua dos Mártires, Chiado, Largo das Duas Igrejas e varanda do Hotel Gibraltar. A partir de 1891, a Câmara estipulou que a Companhia "Gás de Lisboa" iluminaria a Avenida da Liberdade e Praças extremas a electricidade. A produção de energia fazia-se, porém a partir de uma máquina a vapor que funcionava como uma pequena geradora de electricidade que alimentava os 38 arcos voltaicos que iluminavam aquela avenida. Só em 1901 é que a iluminação em Lisboa se tornou mais generalizada com a fusão das Companhias "Gás de Lisboa" e "Lisbonense de Iluminação a Gás". Passou a iluminar a zona mais central e populosa da cidade. Em 1903, com a construção de uma nova máquina geradora junto à fábrica de gás da Boavista, começou a iluminação "a sério" em Lisboa.

No Porto tem-se conhecimento pelo Diário do Governo de 23 de Maio de 1887 que se constituíra uma Companhia - a Companhia de Luz Eléctrica S.A.R.L. com o objectivo de fornecer iluminação eléctrica à cidade. Esta empresa, possivelmente, não chegou a fornecer electricidade. Entre as Ruas Passos Manuel e Stº António situavam-se grandes máquinas a vapor que forneciam a electricidade para iluminar as casas e os comércios da vizinhança (de Stº Ildefonso à Praça Nova).

Em Braga a Câmara abriu um concurso para fornecimento de electricidade em 1891.O resultado deste concurso favoreceu um francês residente no Porto, Augusto Lavarré. O contrato feito em 30-06-1892 obrigava-o a fornecer iluminação á cidade até 1-07-1893. Lavarré tinha por intenção construir uma barragem no concelho de Barcelos para aproveitar o rio Cávado e fornecer electricidade a Braga.

Se assim fosse, Braga seria a primeira cidade a ter electricidade a partir duma barragem. Dado que o tempo era escasso (um ano) abandonou-se este projecto. Optou-se por um gerador do tipo máquina a vapor que foi inaugurado em 23 de Junho de 1893. A barragem viria a ser construída em 1895/1896, apresentando no entanto inconvenientes - no Verão com a seca e no Inverno com as cheias. Daí que houvesse muitas interrupções no fornecimento de electricidade a Braga. Devido a estas deficiências, a câmara sentiu necessidade de ser ela a explorar a distribuição de electricidade o que veio a fazer em 1914.

Vila Real foi a quarta cidade a ver inaugurada o abastecimento público de electricidade, mas a primeira a ser fornecida por uma barragem hidroeléctrica. Em Março de 1890 a Câmara aprovou a proposta que recebera de Leopoldo Augusto das Neves, um portuense, para iluminar Vila Real. Para o efeito, Neves formou a Companhia Eléctrica e Industrial de Vila Real.

A 26 de Junho de 1890 celebrou-se a seguinte “escritura compromisso” entre a Câmara e Leopoldo Augusto das Neves:

· Era-lhe outorgada uma concessão pelo prazo de 30 anos;

· A Câmara dava-lhe licença gratuita para fazer um açude e encanar as águas do rio Corgo ou Cabril para alimentar turbinas e mais maquinismos;

· A instalação devia estar concluída no dia 1 de Janeiro de 1892;

· A Câmara garantia a instalação de um número mínimo de 250 lâmpadas de 16 velas;

· O preço mensal da energia para alimentar cada uma destes lâmpadas seria de 650 reis, e quando o seu número excedesse 500, haveria um desconto de 10% para aquelas que excedesse essa quantidade;

· Quando, em caso de força maior, a iluminação eléctrica fosse parcial ou totalmente interrompida, o concessionário substituí-la-ia por iluminação a petróleo, e, se a interrupção excedesse 2 dias, ser-lhe-ia aplicada uma multa diário de 5$000 reis.

· A Câmara poderia dispor de 3 lâmpadas de força triplicada, de sistema igual ao adoptado na iluminação pública dos boulevards de Paris ;

· Se antes de decorrido o prazo de 30 anos, a Câmara reconhecesse que outra qualidade de luz, ou a mesma, podia ser obtida por quantia menor que a acima estipulada, poderia rescindir o contrato, indemnizando o concessionário com 1000$000 reis por cada ano que faltasse para completar o prazo estipulado.

Estas disposições, as principais da escritura, foram aprovadas nas Cortes Gerais e receberam a assinatura do rei, em 27 de Maio de 1892. A partir daqui, Leopoldo Augusto das Neves forma uma Companhia com os seus associados para a exploração eléctrica. No Diário do Governo de 13 de Julho de 1892 aparecem publicados os Estatutos da denominada Companhia Eléctrica e Industrial de Vila Real, com sede no Porto, capital inicial de 30.000$000 reis, com o fim de adquirir a concessão da iluminação eléctrica de Vila Real e “aproveitar a força motriz disponível, à indústria que maior vantagem possa oferecer à sociedade e fazer instalações que se julgarem de vantagem para a mesma "

Na realidade, já em 1891,a empresa estava activa, pois os jornais noticiavam em Agosto desse ano que "começara a construção de um açude no rio Corgo para a derivação da água necessária para mover as máquinas". O fundão do Agueirinho foi reconhecido como lugar propício para a construção do açude, talvez porque já aí existiam alguns moinhos.

Fez-se o levantamento da planta de Vila Real e, a gerência da Empresa dirigiu-se a Emílio Biel, cidadão alemão residente no Porto, que, entre outras ocupações, tinha a de representar a firma Schuckert de Nuremberga. Entregaram-lhe a planta da cidade para que fizesse o estudo da rede de distribuição de energia eléctrica e, ao mesmo tempo, encomendaram-lhe o equipamento e os materiais necessários para a estação produtora de energia e respectiva rede de distribuição.

No sentido de angariar dinheiro para avançar com o projecto, em Agosto de 1892 a Companhia emite 2900 títulos obrigacionistas de 25$000 reis com juro de 7% e bónus de descontos no preço da luz aos compradores das acções. Porém, pouca gente se interessou pela oferta... Por essa razão, quando alguns meses depois chegaram da fábrica de Nuremberga o estudo da rede eléctrica para Vila Real e os materiais necessários para a fábrica geradora e para a rede de distribuição, a Companhia não teve dinheiro para levantar na Alfândega do Porto estes materiais. Biel, preocupado, informou a firma Schuckert do sucedido. A resposta que recebeu foi que, se a Companhia Eléctrica e Industrial de Vila Real não tinha dinheiro, procurasse ele adquirir-lhe a concessão para avançar com o projecto. Biel conseguiu essa concessão, tendo pago o valor do dinheiro já gasto pela referida companhia até essa altura.

Biel fez as obras necessárias e, em 31 de Março de 1894 fez-se a inauguração oficial do fornecimento de energia eléctrica a Vila Real a partir da Central Hidroeléctrica do Agueirinho. Só depois do projecto se ter tornado realidade é que, em 23 de Junho de 1894, a Câmara de Vila Real reconheceu como válida a transferência da concessão da empresa de Leopoldo Augusto das Neves para Emílio Biel, ou seja, só depois deste ter concluído a instalação da Central produtora de electricidade e ter começado a fornecer energia à cidade. Porém, Biel havia exigido alterações ao contrato de 1890:

· Redução do número de lâmpadas de 16 velas a instalar para 220 e aumento do número de lâmpadas de arco para 12.

· Aumentar o custo mensal de energia para 850 reis por lâmpada

· Aumentar o custo anual da iluminação pública para 50$000 reis

· Fornecimento pela Câmara do pessoal para acender os candeeiros a petróleo quando faltasse a energia eléctrica.

Fonte – Clube de História Local

1 comentário:

ARPires disse...

Quando há pessoas à frente dos organismos que sabem o que querem, as coisas fazem-se e o desenvolvimento acontece.